sexta-feira, 20 de julho de 2007

Capítulo XIV

"- Olá Joka! Já não morres hoje, nem casas amanhã!Ele olha para mim confuso e eu resolvo elucidá-lo - Ainda agora estive a falar em ti.Ele esboça um ligeiro sorriso - A sério?- Quer dizer, não fui propriamente eu que falei. Foram duas meninas com os corações despedaçados.
Ele atira um pouco a cabeça para trás e ri-se. Vê-se que tem noção do efeito que provoca nas adolescentes.
- E as tuas férias, foram boas? - pergunto por delicadeza.
- Foram. Deu para ganhar ânimo para mais uma etapa.
Apetece-me perguntar-lhe se é verdade que ele foi surfar para fora mas, ao mesmo tempo, receio que ele me ache uma metediça; no entanto, a minha indecisão fica resolvida quando ele me pergunta - Já foi à Florida, professora?
Dá-me vontade de atirar uma gargalhada bem alto mas contenho-me - Não, nunca fui à Florida.
- Então não vá. Estive lá a semana passada e fiquei desiludido. Valeu a pena só pela sensação de sentir o sal na pele.
Quando ele diz aquilo, sinto uma espécie de arrepio a percorrer-me o corpo e mentalmente interrogo-me de onde é que ele caiu. Fito-o demoradamente sem saber muito bem o que dizer, porém mais uma vez ele decide por mim - A professora desculpe-me. Não queria parecer pedante. Saiu-me naturalmente.
Começo a achar desconcertante a forma como ele consegue "ler" os meus silêncios e por isso digo rapidamente - Não me pareces pedante, mas sim autêntico.
Ele torna a esboçar um leve sorriso - Obrigado, professora. Bem, vou indo...
Num impulso detenho-o - Espera. Que sítio me aconselharias?
- O Maui, sem sombra de dúvidas - os olhos negros dele cintilam quando fala - A professora talvez prefira o Bali.
- Obrigada. Não me vou esquecer das tuas sugestões quando tiver dinheiro suficiente para fazer uma viagem dessas.
Ele ajeita o gorro ao mesmo tempo que me pergunta - A professora sabe o que eu faço, não sabe?
Abro a boca para responder mas ele não me dá tempo - O surf é a minha vida, professora. Preciso dele como do ar para respirar.
Sinto-me estúpida - Claro. Não quis insinuar que viajasses por simples divertimento. Já te disse que te acho autêntico e, em certa medida, invejo essas tua paixão. Gostava de me sentir assim arrebatada por algo - arrenpendo-me de ter falado tanto e decido que está na hora de pôr fim à conversa - Vou indo. Daqui a pouco temos aula, não é?
- Gostava de lhe emprestar uma coisa, professora.
Sou apanhada de surpresa e não consigo imaginar o que é que ele me poderá querer emprestar. Ele abre a sacola que traz a tiracolo e depois de procurar entre os livros estende-me um cd. Eu agarro-o e olho interrogativamente à espera de uma explicação.
- Quando vir essas imagens vai compreender melhor o que eu quero dizer.
Guardo o cd e só agora me lembro de engolir o café que ficou esquecido em cima do balcão e que está completamente frio.
- Até já! - despede-se ele.
-Até já! - retribuo. Saio igualmente do polivalente com vontade que o dia que acabou de começar, acabe depressa! "