sexta-feira, 20 de julho de 2007

Capítulo VII

"(...) Tento disfarçar o meu entusiasmo e digo qualquer coisa sem interesse à Joana, enquanto pelo canto do olho vejo o vocalista a dar novas indicações aos restantes elementos da banda. O espectáculo continua e, de quando em quando, ele olha para mim e eu começo a achar piada à situação. No final, volto a bater palmas com força. Entretanto, a minha amiga enfia o braço dela no meu e conduz-me de regresso ao balcão do bar. Desta vez é ela a pedir mais dois Bacardis que o «meu barman» regista prontamente no cartão. Atira-me um sorriso e pisca o olho, enquanto atende outros clientes. Quando me viro para abandonar o balcão deparo com o fulano da banda mesmo à minha frente. Tem um copo de cerveja na mão e um sorriso malandro a bailar-lhe nos lábios.
- Tudo bem? - diz, em jeito de cumprimento.
Sou apanhada de surpresa e balbucio uma espécie de resposta também à laia de cumprimento.
- Percebi que gostas de música ou será que me enganei?
- Não, não te enganaste - respondo - Cantas muito bem - aproveito para acrescentar.
- Obrigada - agradece.
Fazemos as apresentações e conversamos um pouco. Enquanto isso, a Joana, impaciente e fartinha de estar ali, propõe que estiquemos a noite e que façamos uma paragem no Alabastro Bar (nota- o único Alabastro Bar que eu conheci ficava no Algarve. Este é inspirado nesse local). O Alabastro é um bar enorme que está aberto, pelo menos, até às quatro da manhã e que tem D.J. e pista de dança. A primeira vez que eu lá fui, à saída, perguntei ao porteiro porque é que aquele local se chamava Alabastro Bar, uma vez que eu não conseguia ver nenhuma diferença entre aquele local e uma discoteca. Ele respondeu-me que se chamava assim porque era um bar. Eu insisti, reiterando a minha ideia de que aquele sítio apresentava as características de uma discoteca. Ele, obtuso, volta a afirmar que é um bar porque se chama Alabastro Bar. Eu digo-lhe que o que ele acaba de fazer é uma petição de princípio e ele fita-me, boquiaberto, talvez julgando-me maluca. Afasto-me dizendo, teimosamente, que aquilo é uma discoteca.
Mais tarde, um amigo informou-me que o Alabastro era considerado bar porque só tinha autorização para estar aberto até às quatro da manhã. Considero que teria sido muito mais simples se o porteiro me tivesse dito isso.
Hesito acerca da sugestão da Joana e penso que tenho mesmo que me deitar cedo porque combinei com as minhas colegas de estágio um encontro para o dia seguinte para elaborarmos uns famigerados testes formativos, mas a minha amiga insiste, secundada pelo Luís (assim se chama o vocalista) que utiliza argumentos pouco plausíveis, do género «eu telefono-te amanhã, para te acordar». Imagino logo que aquilo é apenas uma desculpa para ficar com o meu número de telemóvel, mas acabo por aceder em acompanhá-los. O problema da noite é exactamente este: uma vez na noite é preciso uma grande força de vontade para voltar para casa quando todos os outros se ficam a divertir. Pagamos o consumo e eu aceno um adeus ao barman que finge ficar triste por eu estar de saída. Empurramos a porta e caminhamos para mais uma noite de loucura."